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Série especial mostra como o intercâmbio tem mudado a vida de três estudantes do câmpus Pelotas

MOBILIDADE

De olho no futuro, Luiza Afonso, Cloé Pich, ambas da engenharia química, e Patrick Bartz, da engenharia elétrica, revelam as vantagens de se investir em uma experiência internacional
publicado: 30/07/2019 14h19, última modificação: 30/07/2019 14h19

A partir desta semana, a Comunicação Social do câmpus Pelotas apresentará uma série de reportagens especiais sobre a vida de três alunos da instituição que vivem hoje na Europa e participam do Brafitec, programa franco-brasileiro de mobilidade acadêmica que beneficia estudantes de diferentes áreas da engenharia.

Firmado pelos governos francês e brasileiro, o objetivo do Brafitec é fomentar o intercâmbio em ambos os países e estimular a aproximação das estruturas curriculares, inclusive a equivalência e o reconhecimento mútuo de créditos quando validado pelas coordenações dos cursos envolvidos.

No IFSul, o trio Luiza Afonso, Cloé Pich, ambas da engenharia química, e Patrick Bartz, da engenharia elétrica, foi selecionado em 2018 para uma temporada de estudos de pelo menos dois semestres na Sigma Clermont, localizada na cidade de Clermont-Ferrand, a maior da região de Auvergne, no centro da França, com cerca de 140 mil habitantes.

Hoje, quase um ano após o início da aventura, nossa equipe entrou em contato com esses pelotenses para saber como andam as coisas em solo francês e sobre algumas curiosidades dessa nova vida, longe da família e dos amigos e repleta de novidades.

A primeira reportagem da série conta a trajetória de Luiza Afonso, 23 anos, do curso de engenharia química do câmpus Pelotas.

Da saudade do Laranjal ao estágio na gigante Michelin

Hoje, quem vê a jovem Luiza Afonso desfilando desenvoltura e completamente confortável com o idioma até pode pensar que ela é uma legítima cidadã francesa. Nesses 11 meses fora do Brasil, a jovem de 23 anos vem preparando o terreno para um futuro promissor na Europa. O intercâmbio, segundo a estudante, está realizando um sonho cultivado há tempos e que nunca foi sufocado, sobretudo por questões financeiras.

“Desde muito tempo tinha vontade de fazer um intercâmbio e morar no exterior, porém, por razões financeiras, nunca tive a oportunidade. Quando tomei conhecimento do edital do programa Brafitec, ele me pareceu perfeito, visto que a questão financeira não seria um empecilho e eu poderia aliar a experiência de viver no exterior e aprender outra língua à minha futura profissão. Além disso, é uma experiência única em questão de desenvolvimento pessoal e profissional”, conta.

De fato, o programa de estudos foi o combustível para a realização deste sonho. Pelas regras do Brafitec, os estudantes selecionados recebem uma bolsa mensal para custear suas despesas no exterior, além de seguro-saúde e auxílios para instalação e deslocamento (passagens de ida e volta).

Assim que saiu o resultado final do edital de seleção no IFSul, Luiza pôde, enfim, comemorar e arrumar as malas com destino à Clermont-Ferrand, na França. Lá, está matriculada na Sigma Clermont, uma das mais importantes instituições de ensino do país, onde segue seus estudos em engenharia química, com foco em engenharia de processos. Ela mora em uma espécie de condomínio universitário, num apartamento de 20 metros quadrados, chamado de estúdio, com quarto, cozinha e banheiro.

“Já estou super bem ambientada à cidade e adoro morar aqui. Com certeza, o que mais gosto aqui é a segurança que a cidade proporciona. Poder sair em qualquer horário do dia ou da noite sem ter medo de caminhar na rua é realmente libertador. O que mais sinto falta, sem dúvida, são os amigos, a família e o Laranjal (balneário que é um dos principais cartões postais de Pelotas)”, relata.

Na Sigma Clermont, Luiza também se sente confortável e adaptada, sobretudo com o idioma, tanto que já fez apresentações de trabalhos e seminários em francês.

“Sei me expressar bem e compreendo tudo que falam”, garante.

A estudante elogia a receptividade dos colegas de aula e afirma que já fez “verdadeiros amigos” durante este período de intercâmbio. Quanto aos professores, aponta algumas diferenças em relação ao que estava acostumada no Brasil.

“A convivência com os professores é bem mais formal que no Brasil. Sinto que não temos a mesma ‘intimidade’, e sempre devemos tratá-los com bastante formalidade. No entanto, isso nunca foi uma barreira para expormos nossas dúvidas, e eles sempre se mostraram muito dispostos a nos ajudar e entendem nossas possíveis dificuldades adicionais por não se tratar da nossa língua materna e do mesmo sistema de ensino”, compara.

Com relação ao sistema de ensino, Luiza também observa diferenças. Na França, de acordo com ela, existe uma preocupação com a aplicação, na prática, de conhecimentos adquiridos em sala de aula. E isso se dá por meio de estágios obrigatórios nos últimos três anos de faculdade. Outro ponto positivo, aponta, são as cadeiras obrigatórias voltadas ao desenvolvimento pessoal, empreendedorismo, gestão, línguas, entre outras.

“No Brasil, estudamos muito a teoria nas disciplinas e acabamos não vendo muito a prática”, opina.

E para ganhar mais rodagem, Luiza foi atrás de uma experiência prática. Percorreu os quatro cantos da França em busca de uma oportunidade, mas sempre alimentando o desejo de estagiar na Michelin, uma das principais fabricantes de pneus do mundo, com sede em Clermont-Ferrand. A persistência valeu a pena.

“O processo de seleção na Michelin foi feito em três etapas. Primeiramente, me candidatei à vaga de estágio, enviando minha carta e motivação e meu currículo (que foram analisados e aprovados). Em seguida, fui submetida a uma entrevista ‘técnica’, com um engenheiro de processos que trabalha na equipe da qual faço parte hoje em dia. A última etapa foi uma entrevista com o pessoal do Recursos Humanos e, por fim, veio a resposta de que havia sido escolhida. Acredito que me destaquei pela minha determinação e motivação em fazer parte da equipe e desenvolver o estágio proposto. Além disso, o fato de ser estrangeira, intercambista, pode ter contado, visto que mostra minha versatilidade, facilidade de adaptação e abertura a mudanças”, detalha a jovem pelotense, que na Michelin está trabalhando atualmente na otimização de um processo de polimerização já existente e no desenvolvimento de um novo projeto que visa produzir um polímero sustentável através de biomassa.

A maré de sucesso de Luiza segue em alta. Recentemente, uma professora, admirada com o desempenho acadêmico da pelotense, a convidou para estampar a capa do Guia do Estudante Internacional da Sigma (foto abaixo), uma publicação institucional que trata de diversos temas da universidade, como atividades extracurriculares oferecidas, trâmites burocráticos, residências universitárias e sobre a própria cidade de Clermont-Ferrand, entre outros. O material já circula pela universidade e tem como “modelo fotográfico” a estudante brasileira.

Ficar e se estabelecer de vez em solo francês parece ser o caminho mais natural para Luiza. Após a conclusão da engenharia química no Brasil, ela não descarta uma possível volta à França, caso consiga emprego lá ou até mesmo uma vaga em algum curso de doutorado. Tarefa que será ainda mais facilitada se as tratativas - em andamento - entre IFSul e Sigma Clermont para a dupla certificação de estudantes tiverem um final feliz.

“Se esse acordo der certo, significa ter a possibilidade de trabalhar no Brasil ou na França sem ter que passar por trâmites burocráticos e validação de diploma”, torce a futura engenheira, que, nestes 11 meses de mobilidade estudantil, já conheceu vários países da Europa e também da África, como o Marrocos, pelo qual se derrete em elogios.

“Lá (Marrocos) é diferente de tudo que já vi e visitei, principalmente pelas paisagens inacreditáveis. O céu do deserto do Saara, à noite, é o mais lindo que já vi”, admira Luiza, encantada e agradecida pelo momento que está vivendo a milhares de quilômetros de sua terra natal.

“Realmente é a realização de um sonho. Além de todo desenvolvimento profissional e aquisição de conhecimentos, o desenvolvimento pessoal é indescritível. Morar longe dos amigos e da família, num país que não fala a sua língua, do outro lado do oceano, com certeza, é um desafio enorme. No entanto, só tenho a agradecer a essa experiência única, que me proporcionou aprender um novo idioma, conhecer outra cultura, outros países, fazer novos amigos. Sou muito grata e muito feliz por estar vivendo esse intercâmbio”, finaliza.

Titular do Departamento de Ensino de Graduação e Pós-graduação do câmpus Pelotas, Julio Ruzick afirma que o Brafitec é um programa de extrema importância não só para os estudantes, mas também para o próprio IFSul.

“Como parte da formação realizada no exterior, o estudante agregará uma visão diferenciada da profissão, ampliando o horizonte de atuação, se preparando melhor para o mundo do trabalho. Para a instituição, o estabelecimento de um intercâmbio é a confirmação de que os cursos envolvidos possuem excelência, acreditada por uma instituição internacional de prestígio. Também permite a ampliação do horizonte de atuação dos docentes, através da troca de experiência entre os grupos envolvidos”, conclui.

Na próxima reportagem, você vai conhecer a história do intercambista Patrick Bartz, da engenharia elétrica do câmpus Pelotas.