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Série especial sobre intercâmbio na França conta a história de Patrick Bartz, aluno da engenharia elétrica

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Segunda reportagem mostra o processo de adaptação do estudante do câmpus Pelotas e o que a experiência no exterior tem acrescentado ao seu currículo profissional
publicado: 20/08/2019 10h16, última modificação: 20/08/2019 13h43

A Comunicação Social do câmpus Pelotas apresenta a segunda reportagem da série especial sobre a vida de três alunos da instituição que vivem hoje na Europa e participam do Brafitec, programa franco-brasileiro de mobilidade acadêmica que beneficia estudantes de diferentes áreas da engenharia.

Firmado pelos governos francês e brasileiro, o objetivo do Brafitec é fomentar o intercâmbio em ambos os países e estimular a aproximação das estruturas curriculares, inclusive a equivalência e o reconhecimento mútuo de créditos quando validado pelas coordenações dos cursos envolvidos.

No IFSul, o trio Luiza Afonso, Cloé Pich, ambas da engenharia química, e Patrick Bartz, da engenharia elétrica, foi selecionado em 2018 para uma temporada de estudos de pelo menos dois semestres na Sigma Clermont, localizada na cidade de Clermont-Ferrand, a maior da região de Auvergne, no centro da França, com cerca de 140 mil habitantes.

Hoje, quase um ano após o início da aventura, nossa equipe entrou em contato com esses pelotenses para saber como andam as coisas em solo francês e sobre algumas curiosidades dessa nova vida, longe da família e dos amigos e repleta de novidades.

A segunda reportagem dessa série conta a trajetória de Patrick Bartz, 24 anos, do curso de engenharia elétrica do câmpus Pelotas.

>>> Para ver a 1ª reportagem da série, com a estudante Luiza Afonso, clique aqui.

Determinação e foco no futuro profissional

Foi um tiro certeiro. Precisão e pragmatismo andaram lado a lado no momento em que Patrick Bartz decidiu apostar suas fichas no tão sonhado intercâmbio. A vaga para o programa Brafitec veio logo na primeira candidatura dele ao edital lançado pelo IFSul. Era o início de umas das experiências mais enriquecedoras na vida deste estudante de engenharia elétrica de 24 anos.

“Era algo que eu alimentava já há algum um tempo. Sempre tive a vontade de fazer um intercâmbio, achava que era algo que estava faltando pra complementar a minha formação. Quando vi o edital, não hesitei em me inscrever”, conta.

Patrick foi o único aluno da engenharia elétrica do câmpus Pelotas classificado neste edital. Após a conquista da vaga, era chegada a hora de colocar em prática seus planos em solo francês, como estudante da Sigma Clermont, localizada na cidade de Clermont-Ferrand. Lá, seus estudos estão direcionados à área de máquinas, mecanismos e sistemas e engloba conceitos de mecatrônica, robótica e automação industrial. Em quase um ano de intercâmbio, já participou, inclusive, de um projeto anual com colegas de curso, para o desenvolvimento de um produto em realidade aumentada que aplicava métodos de análise ergonômica de um ambiente de trabalho real.

“O sistema de ensino de engenharia francês diverge bastante do que eu pude experienciar até agora. O foco da escola de engenharia aqui é de formar engenheiros para atuar diretamente no mercado de trabalho, ensinar na prática como as coisas funcionam. O conceito de estudar muita teoria e focar em pesquisa acadêmica é deixado para quem quer se aprofundar após a formatura e fazer um mestrado e doutorado”, relata.

As aulas, segundo Patrick, são ministradas em francês e divididas em teóricas, dirigidas e práticas. As teóricas não duram mais do que duas, três semanas do semestre letivo e servem para apresentar brevemente o conteúdo que será ministrado na cadeira. Nas dirigidas, os professores levam um exercício ligado ao conteúdo para ser resolvido junto com a turma. A ideia é reforçar aquilo o que os docentes esperam que seus alunos aprendam na disciplina, tirando dúvidas e esclarecendo pontos importantes da matéria. Já nas aulas práticas, os estudantes vão para a oficina e desenvolvem atividades e projetos, muitas vezes ligados a problemas reais de empresas que procuram a Sigma para buscar soluções alternativas para problemas reais.

“Devido ao método de ensino daqui, a universidade se empenha a nos preparar para os processos de seleção das empresas. Temos aulas de gestão de projeto pessoal e profissional para que possamos organizar nossos anseios e objetivos, temos aulas com professores, que são também recrutadores de algumas empresas, sobre como escrever uma carta de motivação, como montar um currículo atrativo, simulações de entrevista, e nossos currículos passam por uma revisão com dicas e toques destes profissionais”, destaca.

O idioma, definitivamente, não é obstáculo para Patrick. Apesar de dificuldades pontuais, o estudante garante que a comunicação flui normalmente, sobretudo durante as aulas e na convivência com colegas e professores.

“Desde o começo, sempre tive bastante curiosidade em conhecer e trocar informações com estudantes franceses e de outros países, então, sempre buscava puxar conversa, mesmo que o idioma ainda não estivesse bem desenvolvido. Isso, de certa forma, quebrou uma possível trava social em função das diferenças culturais e abriu portas pra muitas trocas de experiências e conversas bastante agregadoras. Nesse momento, o francês não é um problema. Claro que naturalmente surgem algumas situações onde há uma pequena dificuldade com alguma palavra, mas nada que atrapalhe uma conversa ou expressão de opinião”, afirma.

Mesmo a milhares de quilômetros longe de casa, Patrick talvez nunca tenha se sentido tão confiante e próximo de seus objetivos. Seguro e com o suporte e peso da Sigma a seu favor, as seleções de estágio acabaram deixando de ser um bicho de sete cabeças e passaram a ser vistas como oportunidades de realização pessoal e de preparação para o futuro profissional.

“Atualmente, estou estagiando. Encontrei a vaga em um site de ofertas e encaminhei um currículo e uma carta de motivação para a pessoa responsável. A entrevista foi por Skype, pois a vaga era em Toulouse, no sul da França. A recrutadora se interessou bastante pelo meu perfil em função da posição que estou ocupando aqui, enquanto estudante em mobilidade acadêmica. Isso mostra uma grande vantagem em aspectos pessoais. Quem está nessa posição tem uma pré-disposição a saber lidar com situações difíceis, em saber se relacionar com diferentes tipos de pessoas, enfim, cria uma vantagem no que tange a quesitos interpessoais e culturais, e também pela minha experiência de iniciação científica e participação em grupos de pesquisa”, conta.

Nesta empresa, Patrick integra um grupo de projeto que desenvolve uma plataforma de monitoramento do tráfego aéreo de aproximação dos aeroportos. Ele está trabalhando na parte final do produto, na validação, e uma série de testes precisa ser feita antes do envio ao cliente.

“Até então, esses testes eram feitos manualmente. Um membro do projeto deveria seguir as instruções passo a passo e fazer manualmente o teste. O objetivo do meu estágio é automatizar esses testes. Então, a partir de uma ferramenta chamada Sikuli e a linguagem de programação Python, eu programo a automação desses testes para que possam ser lançados remotamente pela equipe”, explica.

Entre maio e setembro é o período destinado para que os estudantes da Sigma realizem seus estágios. Nesses meses, não há aulas na instituição. Por isso, Patrick conseguiu se mudar de Clermont-Ferrand, região central da França, para Toulouse, no sul do país. Lá, ele mora sozinho em um estúdio - um apartamento de 20 metros quadrados, com cozinha e quartos juntos e um banheiro separado.

Com mais de 500 mil habitantes, Toulouse está entre as cinco maiores cidades francesas. Localizada às margens do rio Garona, é um dos principais destinos de estudantes universitários e conta com atividades para todos os gostos. Arte, história e muita cultura fazem parte do cardápio do município, que também oferece roteiros de dar inveja para quem gosta de esquiar e estar em contato com a natureza.

“Por ser um polo educacional, a cidade oferece muitas atividades culturais e de integração para alunos que vêm estudar aqui. Além disso, fazemos saídas em grupo para conhecer as montanhas e lagos da região, fazer trilha, esquiar durante a temporada. Não faltam atividades extracurriculares”, comenta o estudante pelotense, que já coleciona algumas aventuras e muitas histórias para contar em quase um ano de intercâmbio.

“Já visitei alguns países, cada um com suas peculiaridades, registros e histórias que tocaram e agregaram bastante. Um dos maiores choques culturais que tive foi fora da Europa, no Marrocos (África). Lá, pude estar em contato com uma cultura, costume e tradições totalmente divergentes de tudo que já havia experienciado. Tive a oportunidade de sentar e conversar com pessoas que nunca haviam saído do meio das montanhas, cheios de marcas e experiências que fogem dos padrões e da realidade em que estou inserido, sem tecnologia, sem informação e também sem voz frente ao mundo moderno”, conta.

São situações como esta que estão transformando definitivamente a vida de Patrick. Na verdade, é uma avalanche de experiências e sensações em menos de um ano que estão fazendo com que ele veja o mundo com outros olhos e a sensibilidade de quem amadureceu muito em todos os sentidos.

“O intercâmbio está sendo de grande importância para mim. Profissionalmente, estou muito próximo de potências e marcas de grande nome e valor dentro do setor de engenharia mundial. De certa forma, estou me inserindo e abrindo espaço, e isso está agregando muito para mim. Pessoalmente, foi literalmente sair da zona de conforto e se jogar pra ver o mundo por outro ângulo, conhecer outras realidades, experienciar culturas diferentes. Vem sendo uma experiência única de autoconhecimento, de controle e de gestão pessoal. Não há preço que pague esse crescimento”, afirma.

A tecnologia é a maior aliada de Patrick quando o assunto é o coração. Para matar a saudade da família e dos amigos, ele recorre a chamadas de vídeo durante a semana. O retorno ao Brasil pode acontecer já em setembro, mas o período de intercâmbio ainda pode ser prorrogado por mais três meses, segundo as regras do Brafitec. Para Patrick ainda restam dois anos para concluir o curso de engenharia elétrica. Ele adianta que não quer seguir a carreira docente e cogita a possibilidade de fincar os pés na França, depois de formado, justamente por conta das oportunidades oferecidas.

“Tem muita oportunidade boa por aqui. Mas ainda não está claro para mim se voltarei, vou ver o que o futuro me reserva”, diz.

De olho na dupla diplomação, que já está sendo negociada entre IFSul e Sigma, Patrick projeta seu futuro profissional e vislumbra possibilidades concretas num mercado de trabalho extremamente concorrido e versátil.

“É um diferencial que poucas pessoas podem ter e representa um grande passo paro o ensino e a formação profissional do Brasil. Essa certificação abre incontáveis portas e nos coloca, enquanto brasileiros, frente a frente em qualidade de mão de obra com grandes potências formadoras do mundo. Vejo a dupla certificação como um complemento profissional que vai, no mínimo, garantir uma atenção especial do recrutador ao meu currículo”, finaliza.

Titular do Departamento de Ensino de Graduação e Pós-graduação do câmpus Pelotas, Julio Ruzick afirma que o Brafitec é um programa de extrema importância não só para os estudantes, mas também para o próprio IFSul.

“Como parte da formação realizada no exterior, o estudante agregará uma visão diferenciada da profissão, ampliando o horizonte de atuação, se preparando melhor para o mundo do trabalho. Para a instituição, o estabelecimento de um intercâmbio é a confirmação de que os cursos envolvidos possuem excelência, acreditada por uma instituição internacional de prestígio. Também permite a ampliação do horizonte de atuação dos docentes, através da troca de experiência entre os grupos envolvidos”, conclui.

Na próxima reportagem, você vai conhecer a história da intercambista Cloé Pich, da engenharia química do câmpus Pelotas.