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Câmpus Pelotas emite nota de pesar pelo falecimento da mestre griô Sirley Amaro

LUTO

Sirley Amaro foi responsável pela divulgação de saberes populares e da tradição oral do povo negro
publicado: 29/10/2020 16h30, última modificação: 29/10/2020 17h07

O câmpus Pelotas informa, com pesar, o falecimento da mestre griô Sirley Amaro. Reconhecida pelo seu trabalho de divulgação dos saberes populares e da tradição oral do povo negro, Sirley faleceu na noite de quarta-feira (28), e a notícia de sua morte teve grande repercussão, sobretudo entre servidores da unidade de ensino que puderam trabalhar direta ou indiretamente com ela em inúmeros projetos educacionais.

Integrante do Núcleo de Estudos e Pesquisas Afrobrasileiros e Indígenas (Neabi) e professor do câmpus Pelotas, André Luis Pereira destaca que Sirley sempre esteve presente e disposta a contribuir com o núcleo, sendo parceira em uma série de atividades. Dona de uma militância afetiva, acolhedora e extremamente carinhosa, conseguia fazer com que todos a ouvissem, sem esforço algum. Por ela, as histórias eram contadas de uma maneira que valorizava e elevava o povo negro enquanto sujeitos que produzem história na cidade. A lembrança que fica agora é a de uma mulher forte, que sabia do que falava e ao que se referia enquanto militava.

“Ela contava suas histórias sempre com muita doçura e serenidade, nos fazendo enxergar a possibilidade de uma sociedade melhor. Minhas memórias serão sempre muito positivas, de uma pessoa doce, afetuosa, receptiva e acolhedora com todos que a procuravam. Carrego muitos ensinamentos da dona Sirley, mas o que talvez leve com mais persistência é o fato de ela ser resiliente. Perdemos não só uma referência do ponto de vista da militância do movimento negro, perdemos também uma pessoa que enxergava e nos fazia crer em um mundo melhor. Ela vai permanecer sendo um farol para o movimento negro pelotense e para a resistência negra de uma maneira geral”, enfatizou Pereira.

O professor do curso de formação pedagógica, Manoel Porto Junior, ressalta a responsabilidade social de Sirley ao trazer nas memórias a cultura da ancestralidade negra, proporcionando momentos de convívio e contato singulares. Ao longo dos anos, participou de diversos eventos e conversas, aproximando as histórias e trazendo uma ligação com a cultura da cidade.

“Sempre alegre, disposta e com uma memória prodigiosa, ela conseguia, de um jeito muito simples, nos dar pertencimento a esse espaço em que vivemos. Fico muito feliz pelo reconhecimento que em vida ela teve, sendo reconhecida no ano passado com o título de doutora Honoris Causa. Sentimos muito pela perda e esperamos que seus ensinamentos não se percam e continuem vivendo em cada um de nós”, finalizou Porto Junior.

Cecília Boanova, professora de design do câmpus Pelotas, recorda o papel de Sirley no fortalecimento do instituto, enquanto dialogavam sobre a falta de negros em espaços de poder e a importância do reconhecimento do trabalho dos negros como agentes produtores da história. A mestre griô participou do movimento das cotas e do fortalecimento da juventude negra. Além disso, ensinava sobre a construção de Abayomis, bonecas de seis nós que são signo de luta e resistência da negritude.

“Mestre da cultura oral, costureira e artista, não deixava de enaltecer outras culturas e suas raízes além da negra. Foi costureira e encontrou no fuxico seu grande aliado para contar as histórias vividas, que se confundem com a história de Pelotas, do seu carnaval e do mundo. Muitos de nós tivemos a oportunidade de ouvi-la e temos a obrigação de contar e recontar seus ensinamentos” destacou.