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Especial: Câmpus Pelotas, 73 anos - Parte 3

Seguimos com a terceira parte da série de matérias especiais sobre o câmpus Pelotas, que no dia 11 de outubro completou 73 anos dedicados à educação. Nesta quinta-feira (13), é dia de saber mais sobre as razões que levam a instituição de ensino a ser um expoente nas áreas de pesquisa e extensão. Uma atuação marcante, que vem atravessando décadas e contribuindo para o desenvolvimento de Pelotas e região.
publicado: 13/10/2016 00h00, última modificação: 14/02/2017 17h21

Seguimos com a terceira parte da série de matérias especiais sobre o câmpus Pelotas, que no dia 11 de outubro completou 73 anos dedicados à educação. Nesta quinta-feira (13), é dia de saber mais sobre as razões que levam a instituição de ensino a ser um expoente nas áreas de pesquisa e extensão. Uma atuação marcante, que vem atravessando décadas e contribuindo para o desenvolvimento de Pelotas e região.

Matéria 3 (13.10.2016)

Vocação para pesquisa e extensão 

Pesquisa e extensão estão no DNA do câmpus Pelotas. A maior escola do IFSul leva muito a sério seu relevante papel na sociedade, enquanto instituição pública de ensino capaz de realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicas e desenvolvendo atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades da educação profissional e tecnológica, em articulação com o mundo do trabalho e os segmentos sociais, com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos científicos e tecnológicos.

Na matéria anterior, quando trabalhamos alguns números levantados nas áreas do ensino e da assistência estudantil, por exemplo, foi possível ter uma exata noção da grandeza do câmpus Pelotas, que, nesses 73 anos de história, não parou no tempo e soube enfrentar as transformações com competência e criatividade, contribuindo para o desenvolvimento social e econômico de Pelotas e região.

E por falar em números, eles também traduzem a preocupação do nosso câmpus em fortalecer e dinamizar o tripé ensino-pesquisa-extensão. Levantamento feito pela Coordenadoria de Apoio à Pesquisa, Inovação e Desenvolvimento Tecnológico (Coapidt), setor ligado à Diretoria de Pesquisa e Extensão (Dirpex) do câmpus, somente em 2016, no campo da pesquisa, 38 projetos estão cadastrados e andamento, beneficiando diretamente mais de 50 estudantes de cursos técnicos e superiores, que têm a oportunidade de aplicar, na prática, os conhecimentos obtidos em sala de aula e desenvolver o gosto pela pesquisa, buscando novas fontes, outros saberes.

O professor Pedro José Sanches Filho, 49 anos, sabe muito bem a importância de ultrapassar os limites da sala de aula. Para ele, pesquisar é gerar conhecimento e possibilitar que o aluno se desenvolva e comece a ver as coisas por um outro viés.

“A chave é aprender a aprender. O aluno envolvido pela pesquisa tem sede de saber, e isso é algo que o impulsiona a querer pesquisar mais e mais”, afirma o docente, que encabeça a lista dos servidores com mais projetos de pesquisa cadastrados no câmpus, em 2016.

Doutor em química analítica e líder do Grupo de Pesquisa em Contaminantes Ambientais (GPCA), Sanches Filho considera que ter um perfil para trabalhar com pesquisa é uma característica que ajuda bastante no processo de inserção do estudante nessa área, mas nada supera a motivação pessoal, sobretudo quando o aluno começa a desenvolver seus estudos e enxergar que existem outras possibilidades para a resolução de determinados problemas.

E foi exatamente assim que a pesquisa acabou caindo no gosto de Daniele Sampaio, 20 anos. A aluna da engenharia química do câmpus Pelotas é bolsista do professor Sanches Filho desde quando cursava o técnico em química. Ela conta que escolheu o curso técnico por acaso, mas depois acabou se apaixonando. Tanto que na graduação optou por ficar no câmpus e escolheu a engenharia química para dar sequência aos seus estudos.

“Escolhi ficar porque já conhecia o câmpus, sua estrutura, e a qualidade dos professores. Sem falar que tinha uma vontade muito grande de continuar pesquisando com o Pedro, que é um orientador fantástico”, elogia a discípula, que pretende se tornar doutora na área e seguir os passos do mestre.

A decisão parece ter valido a pena. Recentemente, Daniele foi agraciada com o prêmio de melhor trabalho no 4º Congresso Uruguaio de Química Analítica (CUQA), pela pesquisa intitulada “Otimização do método de hidroextração e caracterização do bio-óleo GCxGC-TOFMS e GC\qMS”. O nome é meio complicado, mas a estudante, gentilmente, fez questão de explicar o objetivo do estudo para que todos pudessem entender.

Segundo ela, uma das etapas da pesquisa foi constatar a viabilidade de extração do óleo produzido a partir de uma planta aquática chamada lentilha d´água, muito comum em riachos e valetas. Esse óleo, comenta a estudante, pode vir a se tornar no futuro um biocombustível.

“Detectamos ainda que, nesse óleo, existe um composto chamado vanilina, presente também na essência de baunilha. Pensando em termos de mercado, a vanilina é muito cara porque a maior parte dela é sintetizada em laboratório. Se conseguirmos produzi-la a partir da lentilha d´água, teremos um composto muito mais barato e limpo, obtido através de métodos mais naturais”, destaca Daniele, adiantando que o próximo passo da pesquisa é purificar e aumentar o rendimento do composto.

Com inúmeros projetos orientados em quase 15 anos de trabalho nesta área específica, Sanches Filho se diz orgulhoso de ter conseguido ajudar a despertar o gosto pela pesquisa em muitos de seus alunos. Ele aponta ainda que o professor deve estar sempre buscando se qualificar para poder ser contemplado em editais de financiamento e, consequentemente, obter recursos para alavancar e dar andamento às pesquisas.

“Professor e pesquisador são um só, não vejo isso de forma dissociada”, dispara o docente, que também foi aluno da instituição, na década de 1980, no curso técnico em química.

Em sintonia com a comunidade

A história mostra que a instituição de ensino sempre esteve presente na vida da comunidade pelotense. Trechos do livro “Das artes e officios à educação tecnológica: 90 anos de história”, escrito por Ceres Mari da Silva Meireles e lançado em 2007, narram a atuação da então Escola de Artes e Offícios, que, em meados do século 20, servia de norte aos “desvalidos da sorte”, dando a eles uma oportunidade de terem um futuro mais digno, através da educação profissional.

Essa forte sintonia com a comunidade vem atravessando décadas e, hoje, ao completar 73 anos, a instituição de ensino continua cultivando essa estreita relação. É claro que os tempos mudaram, assim como a forma de atuação da escola, que vem apostando muito em suas ações de extensão para estreitar, cada vez mais, os laços com a cidade e região.

Este ano, a Coordenadoria de Formação Inicial e Continuada (Cofic), setor ligado à Dirpex do câmpus Pelotas, já contabiliza 33 projetos de extensão, todos em andamento. Essas propostas, apresentadas por servidores da instituição, envolvem diretamente 63 alunos, sendo 32 bolsistas e mais 31 voluntários.

Fátima Insaurriaga Duarte Islabão está entre os servidores que mais apresentaram projetos de extensão em 2016. A assistente social, que atualmente coordena a Cofic, acredita que a extensão é a melhor forma de aproximar o câmpus da comunidade externa, além de dar oportunidade para que qualquer cidadão possa se desenvolver e se qualificar através dos cursos de extensão oferecidos nas mais diferentes áreas.

A servidora tem três projetos cadastrados. Dois deles dizem respeito a cursos de língua francesa. Com duas aulas semanais para cada nível (I e II), a proposta tem como objetivo estimular a inclusão do plurilinguismo nas instituições escolares e potencializar a capacidade do aluno como pessoa e profissional, e o ensino deste idioma, segundo Fátima, se justifica pela sua importância histórica, resgatando a presença da cultura francesa na cidade de Pelotas.

“Os cursos são ministrados gratuitamente por alunos de graduação, voluntários ou estagiários, sempre orientados por professores, e por professores recém-formados, o que caracteriza uma oportunidade significativa para o aprimoramento da prática docente. Além disso, buscamos atender àqueles que necessitam de um curso de língua estrangeira e não têm condições de arcar com as despesas e, ao mesmo tempo, procuramos contribuir com o aprendizado acadêmico dos alunos do curso de francês da UFPel (Universidade Federal de Pelotas), que estão junto conosco nessa empreitada”, detalha.

Vivenciar o processo ensino-aprendizagem além dos limites da sala de aula, com a possibilidade de articular a instituição de ensino às diversas organizações da sociedade, numa enriquecedora troca de conhecimentos e experiências, tem sido a missão do trabalho de extensão realizado no câmpus Pelotas. Outro exemplo bem sucedido e que está em andamento este ano é o projeto “Acolhendo e Educando”, também sob a responsabilidade de Fátima.

A proposta, segundo a servidora, beneficia crianças e adolescentes das Casas Lares mantidas pela Prefeitura de Pelotas. São meninos e meninas em extrema situação de vulnerabilidade social e econômica, muitas vezes, vítimas de violência doméstica e sexual, que estão tendo a oportunidade de participarem de aulas de desenho, língua portuguesa, informática, dança e meio ambiente.

“Restabelecemos o convívio em grupo, em sociedade, que, em algum momento da vida deles, se perdeu. Com isso, procuramos incentivar e estimular o estudo, proporcionando melhores perspectivas de futuro. Todas as ações realizadas no câmpus Pelotas têm o intuito de melhorar a autoestima, o que traz uma série de benefícios, entre eles, uma evolução substancial no desempenho escolar destas crianças e adolescentes”, afirma a assistente social.

Érica Pereira Martins, diretora de Pesquisa e Extensão do câmpus Pelotas, lembra que sempre existiram trabalhos de pesquisa e extensão na instituição, mas que, com o tempo, houve um aumento muito grande de demandas nessas duas áreas. Por isso, a dirigente alerta sobre a importância de oficializar estes projetos e ações, por meio de registro nas respectivas coordenadorias: Coapidt para pesquisa e Cofic para extensão.

“É fundamental que o pesquisador e o extensionista registrem seus projetos. Desta forma, eles contribuem não só para os números da instituição, mas também para que possamos planejar melhor a distribuição de recursos. Isso gera indicadores para que o câmpus possa se estruturar e oferecer ainda mais qualidade para a execução destes projetos”, ressalta.

A diretora avalia que o número de projetos de pesquisa e extensão vem crescendo no câmpus, desde que o então Departamento de Extensão transformou-se em uma diretoria, há cerca de seis anos, abarcando tanto a pesquisa como a extensão.

“Os números do câmpus Pelotas podem até serem maiores do que estes, face à quantidade de projetos de pesquisa e extensão que ainda não foram registrados pelos seus proponentes”, considera.