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Ousadia e consciência cidadã: conheça um pouco mais sobre Cloé Pich, da engenharia química, e seus desafios na França

MOBILIDADE

Última reportagem da série especial sobre intercâmbio traz relatos da experiência vivida pela estudante do câmpus Pelotas no Velho Continente
publicado: 09/09/2019 15h11, última modificação: 09/09/2019 15h11

A Comunicação Social do câmpus Pelotas apresenta a terceira e última reportagem da série especial sobre a vida de três alunos da instituição que vivem hoje na Europa e participam do Brafitec, programa franco-brasileiro de mobilidade acadêmica que beneficia estudantes de diferentes áreas da engenharia.

Firmado pelos governos francês e brasileiro, o objetivo do Brafitec é fomentar o intercâmbio em ambos os países e estimular a aproximação das estruturas curriculares, inclusive a equivalência e o reconhecimento mútuo de créditos quando validado pelas coordenações dos cursos envolvidos.

No IFSul, o trio Luiza Afonso, Cloé Pich, ambas da engenharia química, e Patrick Bartz, da engenharia elétrica, foi selecionado em 2018 para uma temporada de estudos de pelo menos dois semestres na Sigma Clermont, localizada na cidade de Clermont-Ferrand, a maior da região de Auvergne, no centro da França, com cerca de 140 mil habitantes.

Hoje, um ano após o início da aventura, nossa equipe entrou em contato com esses pelotenses para saber como andam as coisas em solo francês e sobre algumas curiosidades dessa nova vida, longe da família e dos amigos e repleta de novidades.

A última reportagem dessa série conta a trajetória de Cloé Pich, 26 anos, do curso de engenharia química do câmpus Pelotas.

>>> Para ver a 1ª reportagem da série, com a estudante Luiza Afonso, clique aqui.

>>> Para ver a 2ª reportagem da série, com o estudante Patrick Bartz, clique aqui.

Engenharia e cidadania

Mesmo com os pés fincados na França e aproveitando ao máximo as possibilidades oferecidas pelo intercâmbio, Cloé Pich carrega o Brasil na cabeça e no coração. A futura engenheira química revela uma consciência cidadã invejável ao apresentar seus planos para o futuro. Não são apenas palavras. São atitudes que, somadas, falam muito sobre o perfil de uma pelotense que não esquece suas origens e encara qualquer batalha para conquistar seus objetivos.

“Uma certeza é que, para onde quer que eu vá, sempre levarei comigo as minhas origens, a minha nacionalidade. O Brasil acredita na formação dos seus profissionais, faz investimentos em educação, e a sociedade, através dos seus impostos, é quem financia o meu intercâmbio e toda a minha formação pública, desde sempre. Espero poder retribuir como cidadã todo esse investimento e contribuir para o desenvolvimento do país”, afirma.

Muito deste projeto de vida está diretamente relacionado ao projeto Brafitec. Convicta de suas ambições, Cloé decidiu concorrer ao edital em busca de desafios e experiências que pudessem agregar à sua formação pessoal e profissional. Decisão mais que acertada.

“Resolvi participar do edital do Brafitec porque achava que seria uma oportunidade de ser uma pessoa melhor e uma engenheira com uma formação mais ampla. Hoje, eu tenho certeza. Sempre quis fazer um intercâmbio num país diferente. Imagino que para uma mesma engenharia química existe uma sociedade com necessidades e tecnologias diferentes, e isso oferece a possibilidade de complementar muito a formação técnica. E a questão de viver em outra cultura, de buscar novos desafios em um segundo idioma, soma muito na formação humana”, diz.

Motivada, a estudante tem apresentado um excelente rendimento acadêmico na Sigma Clermont. Tanto que conseguiu renovação para seguir por mais um ano letivo na instituição. Seus estudos na França estão centrados em engenharia de processos.

“Eu tinha a oportunidade de focar em materiais de alta performance ou química orgânica, mas escolhi engenharia de processos, que é sobretudo a engenharia química do Brasil e a área que eu mais gosto”, explica.

Atualmente, está estagiando em uma filial do SI Group (The Substance Inside), que produz, principalmente, reagentes químicos, como o TBM6 e ácido clorídrico. Mas o que chamou mais atenção nesse processo todo foi a atuação da própria Cloé para conquistar a vaga de estágio.

“Não existia uma vaga de estágio, mas, sim, uma necessidade. Eu propus uma candidatura espontânea na hora certa. Acredito que as candidaturas espontâneas são uma boa maneira de mostrar que temos um perfil ousado e que estamos muito dispostos a trabalhar”, conta.

A futura engenheira comenta que já havia tentado mais de 50 candidaturas de estágio, ora com respostas negativas, ora com ausência de respostas. E foi neste clima de incertezas que Cloé desbravou seu próprio caminho para o sucesso.

“Essa oportunidade surgiu de um contato que eu fiz com um antigo aluno da Sigma, cujos dados eu obtive num anuário de engenheiros formados pela instituição. Enviei um e-mail com currículo e carta de motivação e, por sorte, a empresa estava precisando de mão de obra. Fiz duas entrevistas por telefone e consegui a vaga”, detalha.

Assim como seus outros dois colegas de intercâmbio, Luiza Afonso e Patrick Bartz, Cloé também enxerga diferenças nos sistemas de ensino francês e brasileiro, mas acredita que as metodologias, mesmo distintas, contribuem para uma formação mais completa.

“O IFSul, na minha opinião, forma engenheiros muito independentes. Temos um embasamento teórico muito forte. Enquanto que na Sigma resolvemos mais exercícios e aplicamos mais diretamente os conceitos, no IFSul somos mais instigados a saber sempre onde buscar. Mas a Sigma tem uma metodologia  diferente de avaliação, o que nos leva, durante a jornada acadêmica, a  construir nosso próprio material e a refletir mais durante as provas. São metodologias  diferentes. Eu me senti bem preparada em relação à área de engenharia e, muitas vezes, recorri à bibliografia e materiais do IFSul, inclusive via biblioteca digital”, compara.

Cloé ressalta que, antes de participar do Brafitec, tinha a sensação de que não estava sendo bem preparada para a carreira. Hoje, consegue ver, com clareza, que mesmo que haja algum problema no caminho, seja no estágio ou na própria Sigma, ela conta com uma base forte para consolidar um bom levantamento de dados, fazer um planejamento e lidar com a solução.

“Vejo o IFSul e a Sigma como instituições que farão de mim uma pessoa habilitada para ser engenheira química. Mas quem fará de mim uma engenheira, sou eu”, completa.

Por conta do estágio, Cloé está morando em Compiégne, cidade próxima a Paris. A filial do SI Group fica em Catenoy, distante cerca de 40 minutos de sua residência. Atualmente, ela divide apartamento com dois colegas franceses, uma escolha própria, para poder aprimorar o idioma. Assim que terminar o período de estágio, a estudante retornará a Clermont-Ferrand para seguir cursando as disciplinas da Sigma. Lá, ela voltará a residir em um stúdio, um apartamento de 20 metros quadrados, com cozinha e quartos juntos e um banheiro separado.

“Estou ambientada com Clermont-Ferrand e Compiègne, principalmente Compiègne. É mais ao norte, a temperatura nessa época do ano é mais fria aqui e chove mais. Mas o inverno em Clermont é ótimo. A cidade é alta e neva um pouco. Eu gosto muito de morar na França e não sei dizer o que eu menos gosto. Talvez o que eu mais estranhe seja o correio. Usam muito aqui para envio de documentos e, inclusive, pagamento de contas. Em relação ao Brasil, eu sinto falta da família, dos amigos, dos colegas do trabalho e dos meus animais de estimação”, diz.

Como a vida não é só estudos, Cloé também tem aproveitado o intercâmbio para conhecer outras culturas e costumes. Neste um ano de Europa, visitou vários países do Velho Continente, com destaque para a Itália.

“Gostei de todos, Alemanha, Áustria, Bélgica e Suíça. Mas a Itália foi o que me proporcionou a melhor experiência. Conheci a capital, Roma, que é uma viagem no tempo”, destaca.

Com pelo menos um ano pela frente para desfrutar ainda mais o leque de oportunidades que um intercâmbio oferece, Cloé pretende seguir com a maior dedicação possível em suas atividades de estágio e também na Sigma. Depois de concluir o curso de engenharia química no IFSul, ela não descarta retornar à França para iniciar sua trajetória profissional, mas não pretende ingressar na carreira docente.

“Talvez exista a possibilidade de voltar para cá, pois o duplo diploma reconheceria automaticamente a minha formação aqui. Mas a vida é feita de ciclos. Eu espero estar realizada profissionalmente, que a minha carreira me permita conciliar o trabalho com o tempo de lazer, que eu possa viver uma vida confortável e ser uma pessoa melhor. Tendo isso em mente, acho que não importa aonde vamos, e sim quem somos e como nos sentimos em relação à nossa vida. “Parece clichê, mas, no fundo, o que importa é ser feliz”, argumenta.

Sobre a dupla diplomação, a futura engenheira química pode ficar tranquila. O assunto já está sendo tratado entre IFSul e Sigma, e, assim que o acordo for firmado, novas portas poderão se abrir na França a estudantes de engenharia formados pelo instituto federal.

“A dupla diplomação abre portas para trabalharmos diretamente como engenheiros aqui. Significa que teremos habilitação para exercer a profissão em territórios que reconhecem a formação francesa, sem precisar fazer uma validação da nossa formação nesses lugares. É uma grande oportunidade. O Brafitec me permitiu ver o quão rica é a nossa formação no IFSul. Me permite exceder expectativas em relação à profissão e aos meus limites pessoais. Sobretudo, me mostrou que poucos objetos e muita força de vontade são suficientes para chegar aonde queremos. E  graças  ao  estágio  obrigatório,  hoje, mais do que nunca, tenho certeza de que escolhia profissão certa”, finaliza.

Titular do Departamento de Ensino de Graduação e Pós-graduação do câmpus Pelotas, Julio Ruzick afirma que o Brafitec é um programa de extrema importância não só para os estudantes, mas também para o próprio IFSul.

“Como parte da formação realizada no exterior, o estudante agregará uma visão diferenciada da profissão, ampliando o horizonte de atuação, se preparando melhor para o mundo do trabalho. Para a instituição, o estabelecimento de um intercâmbio é a confirmação de que os cursos envolvidos possuem excelência, acreditada por uma instituição internacional de prestígio. Também permite a ampliação do horizonte de atuação dos docentes, através da troca de experiência entre os grupos envolvidos”, conclui.

Se você também sonha em participar de um intercâmbio, fique ligado nos editais lançados pela Diretoria de Assuntos Internacionais (DAI) do IFSul, no site oficial.